19/07/14

Um fato à medida

Os serviços digitais que usamos apresentam-se como gratuitos mas não o são. Na homepage do facebook lê-se it's free and always will be. A etiqueta está escondida.

As empresas de bens e serviços têm várias formas de tornar o seu negócio rentável e a publicidade é cada vez mais uma delas. A publicidade funciona como um macaco, e os macacos sentam-se sempre no galho mais forte. O galho mais forte é o digital.

Um dos galhos mais fracos são os jornais. A sua morte anunciada - que é triste, mas faz sentido - não se deve exclusivamente ao shift nos canais publicitários. Mas é importante notar que com a morte destes formatos de comunicação tradicional, também outras formas tradicionais de publicidade irão acompanhar esta tendência. A concorrência é desleal.

Mas antes, I brought some data just for you.

A nível global, em 2012, o investimento em publicidade e em informação e entretenimento cresceu quase 6%. No rescaldo de uma crise global, os gastos em publicidade apresentam uma tendência contrária:

Europa Ocidental - 1.6%
Leste e Centro da Europa + 8,5%
América do Norte + 4.5%
Africa e no Médio Oriente + 21.3%
Asia + 8,5% (China + 16,4%)
América Latina + 13,3%

Para os próximos anos estima-se que este tendência se acentue, com a área da publicidade digital com o maior crescimento anual médio até 2017 (+ 14,7%). 


O Jornal como um objecto de luxo é uma ideia engraçada, mas realista. A imagem foi sugerida pelo CEO e fundador da Amazon, após ter comprado o Washington Post com um 1% da sua fortuna pessoal. Seguindo a mesma lógica este jornal do futuro (provavelmente impresso em seda) só terá publicidade a autoclismos de ouro que tocam free jazz quando a pressão é accionada no assento. 


A publicidade na TV ou num jornal é passível de ser ignorada - podemos sempre passar a página ou mudar de canal. No digital a coisa é mais in your face, give me all your money. Este é, claro, o sonho máximo de qualquer empresa. Não só acedem directamente aos potenciais clientes  - que lhes proporcionam de forma voluntária esse direito - como se torna inevitável assistir ao seu anúncio e ver o nome da sua marca; o que é suficiente. Cada vez mais a publicidade será intrusiva e custom-made.

Estes são os alfaiates (tailors) da publicidade. Donos eternos da nossa informação privada (emails, pesquisas, etc.), matéria-prima com que de forma indiscriminada e não regulamentada nos costuraram um fato à medida. 

E o facto é que este fato é um colete de forças disfarçado de Armani. 

O problema é que a etiqueta está escondida.

Enquanto que por um Jornal tradicional pagamos uns quantos euros, o preço de utilização de serviços como a Google, LinkedIn ou Facebook somos nós mesmos. O custo do jornal vem na capa, o da Google e afins vem diluído nos Terms Of Service

Ninguém exige que as empresas façam serviço público e não estou a sugerir um êxodo digital em massa, mas seria simpático se oferecessem a opção aos consumidores de pagar pela utilização destes serviços de outra forma, como um preço de subscrição mensal/anual em que o utilizador é proprietário exclusivo da sua informação. 

Em sua defesa estes senhores dizem o seguinte:

If you have something you don't want anyone to know you shouldn't be doing it in the first place.

Eric Schmidt 

That's not the point Eric. No entanto também eu estou(-te) grato por viver numa sociedade super segura, que transborda de empresas empenhadas no serviço público e alfaiates benfeitores.

So Don't be evil, nor a tailor.


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