31/08/14

25/08/14

Serviço público

Como ávido explorador da selva cibernética várias são as vezes que saco da minha catana virtual e desbravo caminho à procura de filmes e documentários. Aqui ficam cinco atalhos por entre as ervas daninhas.


A vista


24/08/14

Alguns gostam de poesia

Alguns gostam de poesia.
Alguns –
quer dizer nem todos.
Nem a maioria de todos, mas a minoria.
Excluindo escolas, onde se deve
e os próprios poetas,
serão talvez dois em mil.

Gostam –
mas também se gosta de canja de massa,
gosta-se da lisonja e da cor azul,
gosta-se de um velho cachecol,
gosta-se de levar a sua avante,
gosta-se de fazer festas a um cão.

De poesia –
mas o que é a poesia?
Algumas respostas vagas
já foram dadas,
mas eu não sei e não sei, e a isto me agarro
como a um corrimão providencial.

Wislawa Szymborska
Instante
Relógio d'água

mar (II)




23/08/14

22/08/14

16/08/14

conta corrente

1-Fevereiro (sábado). Fiz cinquenta e três anos há dias. Como é óbvio, não acredito. Mas enfim, é a opinião do Registo Civil. Acabou-se, fiz cinquenta e três. É aliás uma idade inverosímil, a minha, desde os cinquenta. A "vergonha" da idade (que não tenho) deve vir daí. E então lembrei-me: e se eu tentasse uma vez mais o registo diário do que me foi afectando? Admiro os que o conseguiram, desde a juventude. Nunca fui capaz. Creio que por pudor, digamos, falta de coragem. Um romance é um biombo: a gente despe-se por detrás. Isto não. Mesmo que não falemos de nós (é-me difícil falar de mim). Aliás como os outros, desconheço-me. Talvez, também porque me evito. A verdade é que, quando me encontro bem pela frente, reconheço-me intragável. Mas enfim as virtudes são também desgostantes. De resto, sou pouco abonado. Segundo a Regina, as virtudes que tenho têm mesmo raízes viciosas: tolerância por fraqueza, interesse pela arte, por vaidade e coisas assim. Não digo que aconteça isso com todas as ditas virtudes; mas com algumas deve ser verdade. Chega. O meu "diário" está nas centenas de cartas aos meus amigos. Lembro as ao Lima de Freitas, L. Albuquerque, Costa Marques, Mário Sacramento, Eduardo Lourenço, alguns mais. Em todo o caso, essas mesmas, falsas. Excepto talvez quando sobre questões sérias. E ainda aí há quase sempre um disfarce ou o tempero do gracejo. Serei agora capaz? Tento. Seguro-me ao argumento de que me dá prazer ler os registos dos outros. Lêem-se sempre com curiosidade. Um motivo para insistir - satisfazer a curiosidade dos outros. Mas terei eu "outros"?

6-Fevereiro (quinta). Fui à Baixa. É-me quase uma aventura ir à Baixa. De qualquer modo, é um acontecimento - não sou da baixa, não sou mesmo da cidade, estou nela o mais possível dos arredores. Eu dizia, antes de vir para Lisboa, que traria a província comigo e me instalaria nela. (O Namora concordou com o meu dito a propósito do Aquilino.) Ilusão. Da província trouxe só o meu modo de estar na província, sem província para estar. O resultado é pouco cómodo. Sem convívio, chega-se a perder vocabulário. George de Sand, a propósito dos frades de Vale de Mosa, em Maiorca, dizia que a solidão estupidifica. Pois. A útil e verdadeira solidão é ser-se eu com. Não ser-se eu. Fui à Baixa. Conversei com Serafim Ferreira. Serafim Ferreira resiste-me dos amigos que me vão largando. Incapacidade minha de os segurar? Vivo aquém do ser natural e só aí eu sou natural e aproveitável. É aí que faço livros. Para além, na zona de convívio, um desastre. O que se passa onde faço os livros não é convivente. E raro, afinal, o quero convivente. A verdade de um artista não é quotidiana e o artista tem de sê-lo. Daí os desencontros. Trazer para o lado de cá o que é do outro lado, não. Não. Do lado de cá aprendi as regras do jogo. O Serafim. Firme. Por enquanto. Em epistolografia, aguento-me. É ainda o prolongamento daquilo onde funciono. De um a um, foram-se indo todos. Diz-me o Serafim que mesmo o Nelson de Matos. Óptimo. Concentrei-me em obstinação desde cedo - contra quase a vida toda que sempre me foi contra. Perfeitamente. Continuemos. Culpado eu - atenção. Exclusivamente. Creio-o a sério. Quase todos os que contactam comigo sofrem uma decepção. E decepcionado eu sempre com a decepção deles. Nada a fazer.

Virgílio Ferreira
conta corrente
Livraria Bertrand (1980)

15/08/14

14/08/14

12/08/14

11/08/14

10/08/14

08/08/14

Romi Horn


Romi Horn, Things That Happen Again: For Two Rooms, 1986.

C: As viewers, we'll literally act out what conceptually we comprehend as the subject of the work...

Horn: Yes. Narrative has no interest for me except in terms of how an experience unfolds for the viewer. That is the narrative of the experience of the work itself. To take another example: in Piece for Two Rooms you go into a space and see a simple disk. It doesn't look like much: it isn't, until you walk in and see that it is a three-dimensional cone-shaped object which is familiar but has certain subtle format qualities which make it different, which take away from it being familiar. It becomes memorable. Then you go into the next room and enact exactly the same experience, but of course it's unexpected and it's so many minutes later; it's a slightly younger experience in your life. Whereas when you walked into the first room, you had the experience of something unique, you can't have that a second time. That's it. It's a one-shot deal: it's not a reversible thing. When the viewer is going through this experience, that becomes the narrative: it's literally a piece of your life and it's the narrative of the work. (...) Knowledge is a funny thing: it often precludes experience.

Romi Horn 
Phaidon Press Limited
2000

06/08/14

03/08/14

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